Hypermarcas se enrosca em perigosas ligações

  • 11/05/2015
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O que começou como uma investigação aparentemente circunscrita a um hotel desativado no Rio de Janeiro pode se transformar num escândalo protagonizado por uma das grandes companhias abertas do país. A CVM, a Polícia Federal e o Ministério Público estão mergulhando no buraco negro das relações cruzadas entre a Hypermarcas, o contraventor Carlinhos Cachoeira e o ex-senador Demóstenes Torres. As autoridades empenham-se em juntar uma série de pequenos cacos que, uma vez colados uns aos outros, poderão revelar um tenebroso mosaico composto por negociações empresariais pouco ortodoxas, tráfico de influência e má gestão corporativa com potenciais riscos a acionistas minoritários. Os estilhaços já colocados sobre a mesa apontam para supostas ligações da fabricante de medicamentos, cosméticos e produtos de higiene e de seus dois principais acionistas – João Alves de Queiroz Filho (mais conhecido como “Junior”) e Marcelo Limírio Gonçalves – com negócios vinculados a Cachoeira e ao ex-parlamentar goiano, cassado em junho de 2012 justamente por conta de suas pretensas relações com o contraventor. Não é de hoje que as relações de “Junior” e Marcelo Limírio com Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres são vistas como controversas e despertam suspeições. Goianos, a exemplo do contraventor e do ex-senador, os dois empresários construíram parte de suas fortunas no estado, um dos maiores polos farmacêuticos do país. No entanto, a questão recrudesceu ainda com mais força a partir de um negócio a léguas de distância da farmacologia. As autoridades passaram a investigar uma eventual ligação da Hypermarcas com a HN Empreendimento e Participações – sociedade criada por “Junior” e Limírio para administrar o prédio do antigo Hotel Nacional, em São Conrado, na Zona Sul do Rio. Há suspeitas de que Cachoeira seria sócio oculto da HN. Candidato único no leilão, Limírio arrematou o imóvel em condições bastante favoráveis: ofereceu um preço quase 30% inferior ao lance mínimo (R$ 118 milhões) e parcelou o valor em 60 vezes. A partir de então, as pontas puxadas nas investigações parecem ter um laço entre si. Todos os personagens envolvidos se encontram em algum ponto. Denúncias que chegam a  PF, ao MP e a  própria CVM – encaminhadas por acionistas minoritários da Hypermarcas – dão conta de que a empresa teria conexões com laboratórios farmacêuticos pertencentes a Cachoeira, entre eles o Vitapan. Limírio, por sua vez, seria sócio do contraventor em uma fabricante de testes para laboratórios, chamada ICF, e de Demóstenes em uma universidade em Minas Gerais. Na Hypermarcas, o assunto causa calafrios. Entre a alta direção, a percepção é que a companhia está a s portas de uma série crise institucional. Todos sabem onde a história começou – na porta do velho Hotel Nacional – mas é absolutamente impossível dizer onde pode terminar, sobretudo nestes tempos de denuncismo e busca obcecada por um novo escândalo a cada esquina. Não por acaso, os negócios paralelos de Limírio e “Junior” sempre foram um ponto de fricção entre a dupla e outros acionistas do grupo, sobretudo a Maiorem, dona de 14% do capital – a holding reúne as participações de quatro grandes investidores mexicanos, entre eles Alfredo Harp Helú, primo de Carlos Slim. Procurada pelo RR, a Hypermarcas não quis se pronunciar.

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