A análise monossilábica do passageiro Schwartsman

  • 30/04/2015
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A luminosidade inesperada de um fogo-fátuo surgiu no voo da TAM, do meio-dia de ontem, na trajetória da Ponte Aérea São Paulo-Rio. Na poltrona da esquerda, na quinta fileira de quem adentra o avião, uma luzidia careca, com fulgor de metal polido, chamava a atenção da fila de passageiros que se dirigia ao fundo da aeronave. A calvície esplêndida tinha nome. Embecadíssimo, com um terno risca de giz no melhor estilo Saville Row, o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman era um facho de luz em si mesmo, disputando o brilho do pequeno espaço com o irradiado naturalmente da tela do seu iPad. Ele martelava o pequeno instrumento como se um toque fosse uma marretada. A leitura seguia no mesmo diapasão. De uma página da mídia impressa para outra, um átimo temporal; de um jornal para outro, poucos minutos. Começou pelo Valor, passou pelo Estado de S. Paulo, e seguiu cavalgando as letras com voracidade. Certamente, procurava subsídio para espicaçar o governo em seu papel de economista- colunista. Assim foi e assim seria o breviário aeronáutico do douto e calvo senhor se o RR não surgisse de repente para sacudir a paz do contente. Pergunta feita de chofre a Schwartsman: o senador José Serra tornou-se pop em 24 horas ao lançar a proposta de desmobilização de ativos da União (Serra tratou especificamente da Petrobras) como uma política complementar de suporte ao ajuste fiscal. Qual sua opinião? Resposta do ex-BC: “Muito boa a ideia, mas faltam determinação política e capacidade de gestão”. Volta o RR: “Mario Henrique Simonsen considerava essa uma excelente proposta (No caso, falava-se “privatização”) desde que os recursos fossem para reduzir a dívida pública mobiliária”. Visivelmente incomodado, respondeu com uma evasiva: “Foram outros tempos”. O RR traz, então, um tema fora do noticiário: “Não seria pertinente relançar o debate sobre a nacionalização de depósitos no exterior, através de anistia fiscal, em um esforço para captar poupanças dispersas? O projeto está na Câmara dos Deputados”. A resposta foi radical: “Acho imoral”. Insistimos: “Mas mesmo que esses recursos estejam perdidos em alguma nuvem e nunca mais sejam recuperados, eles não poderiam também abater recursos da dívida interna?”. Segundos de silêncio, e tome de volta: “É imoral”. E fim de papo. Schwartsman é muito mais falante nas páginas do jornal. Ao vivo e a cores, impressiona mais pela lanterna que carrega sobre os ombros, repleta de encéfalos crepitantes.

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