São Carlos é um cantão que não está no mapa de Lemann

  • 6/04/2015
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Em suas habituais caminhadas a  beira do Lago Zurique, bem em frente a  sua casa, enquanto contempla as belezas da Goldka¼ste (ou Costa Dourada), Jorge Paulo Lemann costuma pensar consigo mesmo: “A partir de agora, vou me dedicar apenas a mega-negócios”. Mas qual a razão para a lenda, o mito, a semidivindade ter esse momento de autocrítica? O motivo da reflexão atende pelo nome de São Carlos Empreendimentos, uma das maiores incorporadoras de imóveis comerciais de São Paulo, mas, ainda assim, apenas um pingente folheado a ouro se comparado a s pedras preciosas que adornam o colar de participações de Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. A quase dez mil quilômetros de distância do cantão alemão, quem também anda reflexivo – e muito preocupado – é o presidente da São Carlos, Felipe Góes. Se pudesse voltar a quele 15 de janeiro de 2013, muito provavelmente o executivo não assinaria o contrato de compra da EZTowers, luxuoso prédio de escritórios construído pela Eztec na Marginal Pinheiros. Os Lemann’s Boys – vistos, com justiça, como a quintessência da gestão corporativa – também cometem seus pecadilhos. Na próxima semana, a São Carlos receberá formalmente as chaves do imóvel, em um período de profunda depressão do setor imobiliário e da atividade econômica como um todo. Até o momento, a companhia só vendeu o equivalente a 45% da Torre A. Dois potenciais locadores, que estavam prestes a fechar, cada um, o aluguel de um andar inteiro, teriam desistido do negócio há pouco mais de duas semanas. Resultado: a meta de breakeven do empreendimento, que era de três anos, já foi esticada para 2020. A EZTowers é a maior aquisição já feita pela São Carlos. Custou R$ 564 milhões. a€ época, o metro quadrado na região custava R$ 150 e, ainda assim, os interessados penavam para encontrar um belo endereço. Hoje, a oferta de imóveis transborda e o preço do m2 na área não passa dos R$ 100 – quem oferecer R$ 90 a  São Carlos sai do escritório do corretor com um contrato debaixo do braço. Ressalte-se que a São Carlos já vem de um ano decepcionante. O lucro de R$ 120 milhões em 2014 representou uma queda de 51% em relação ao exercício anterior, o que só aumenta a pressão sobre a gestão de Felipe Góes. Sabe-se lá quais serão os pensamentos de Jorge Paulo Lemann na próxima vez em que ele enxergar sua imagem refletida nas águas do Lago Zurique, a  sombra dos montes Albis e Zimmenberg. Hoje, a São Carlos não é o seu melhor espelho.

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