Vai ter rabanada no Natal de Dilma Rousseff

  • 6/10/2015
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 O Natal de Dilma Rousseff deverá surpreender a ela própria. Graças a uma imprevista combinação de fatos – alguns criados pelo próprio governo e outros surgidos praticamente por combustão espontânea –, a presidente deverá tirar uma folga da crise que a vem afogando desde o início do segundo mandato. No território político, o acordão com o PMDB e a consequente abdução do Congresso – por mais que não se saiba ao certo quem capturou quem – aumentaram suas chances de sobrevivência. Na noite da última quinta-feira, enquanto Dilma dava a definitiva demão de tinta na reforma ministerial, um cada vez mais fragilizado Eduardo Cunha – aliás, um raro “presente” de Sergio Moro para o Planalto – arquivava outros dois pedidos de impeachment. O arresto do Legislativo se dá em um momento crucial também pela iminente reprovação das contas de Dilma em 2014. Se o troca-troca ministerial foi o “toma lá”, o governo espera que o Congresso e, em especial, a bancada do PMDB saibam retribuir com o “dá cá” ao apreciar o parecer do TCU. O mesmo se aplica à votação das medidas para o ajuste fiscal. As propostas fundamentais para o reordenamento das contas públicas, como a CPMF, a repatriação de recursos e o adiamento do reajuste de servidores, dependem dos parlamentares. Para os brindes de fim de ano serem feitos antecipadamente, fica faltando só o encerramento do processo no TSE, previsto para esta terça-feira. Há pontos de descompressão, digamos assim, involuntários, que passam ao largo de ações deliberadas do governo. Antes mesmo que o eventual desanuviamento do ambiente político se espraiasse pela economia, a crise engendrou seu próprio ajuste parcial. Quanto maior a crueldade do binômio desemprego/queda do salário real, maior a blindagem da inflação ao pass through do câmbio. A própria disparada do câmbio foi mal que veio para o bem. A balança comercial projeta superávits cada vez maiores, com o aumento das exportações e a substituição de importações. De quebra, o câmbio tem promovido uma arrumada dos estoques das empresas, principalmente na indústria. Previsões indicam aumento nas vendas natalinas do comércio de até 2% em relação a 2014, o que há pouco tempo não era esperado. O agrobusiness continua bombando. E o desemprego, que deu um salto de cerca de um ponto percentual em um único mês, deve ser amainado pelo presente da maior absorção de mão de obra que Noel traz todos os anos para os trabalhadores. Ressalte-se que estes fatos somados trazem a expectativa de um alívio apenas para o curtíssimo prazo. Os tijolos que Dilma Rousseff conseguiu juntar não permitem a construção de uma ponte muito longa. O Natal da presidente está salvo? Hoje é uma aposta razoável, não obstante a impressionante volatilidade que caracteriza o atual governo. Mas do Dia de Reis para a frente, tudo é incógnita. A agenda para 2016 é sombria: todas as projeções para a economia dão o ano como perdido, a começar pela expectativa de uma queda do PIB de 1% – sobre uma redução prevista de 2,8% em 2015 –, aumento do déficit nominal, aumento da relação dívida bruta/PIB de 2,5%, expansão do desemprego, queda da renda e do salário real, mais impostos etc. Mas mesmo nesse oxigenado interstício que vai de agora até o Natal, não se pode desprezar a notória capacidade de autossabotagem da própria presidente da República. Dilma está sempre pronta para colocar mais um bode na sala de cada brasileiro. Mesmo que seja no período de festas.

#CPMF #Dilma Rousseff #Eduardo Cunha #PMDB

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