Temer não queria ser ouvido; por isso, acabou sendo “escutado”

  • 22/05/2017
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Um dos enigmas do grampo de Michel Temer – a incapacidade do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em rastrear escutas e garantir a privacidade do presidente da República – foi respondido em parte ao RR por uma fonte do setor de informações das Forças Armadas. Por arrogância ou intenção proposital de não ter suas conversas monitoradas, Temer deixou “pontos vazios” e mandou relaxar os procedimentos de controle e segurança nas suas dependências. É até razoável aceitar que o porão do Palácio do Jaburu não estivesse entre as dependências mais visadas para que fosse montado algum sistema de averiguação.

Mas é estranho que Joesley Batista, um empresário notoriamente envolvido na Lava Jato, tivesse liberado seu ingresso de carro na guarita do Jaburu sem a obrigatoriedade de identificação. Ou mesmo que, com tamanha folha corrida, não fosse feita pelo menos uma revista protocolar no “convidado” – abrir pastas, palmear bolsos etc. Algo bem menos invasivo do que a busca realizada pela Alfândega norte-americana no ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, Celso Amorim. Convém rememorar que foi o próprio Temer quem desautorizou a aquisição de equipamentos para interferência em dispositivos eletrônicos (ver RR edição de 18 de maio).

A metade do enigma da esfinge, portanto, está decifrada: o setor de informações não foi inepto nas suas responsabilidades. Foi Temer que não deixou o GSI funcionar. A segunda interrogação é de um silêncio ensurdecedor: o presidente agiu de caso pensado ou por se sentir acima de qualquer risco? É um dilema entre a criminalidade e a onipotência. Nenhuma das hipóteses abona plenamente Michel Temer.

Currículo do crime

O Serviço de Inteligência do Exército tem informações de que grandes facções criminosas, como o PCC, montaram uma espécie de “universidade do crime”, algo razoavelmente similar ao modelo adotado por grupos terroristas. Seus integrantes têm aulas sobre logística, armamentos, tecnologia etc. Em alguns casos, há um sistema de avaliação com notas, que serve como referência para “promoções hierárquicas”.

#Joesley Batista #Lava Jato #Michel Temer

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