Sucessão na Defesa é uma farpa nas relações entre Planalto e Forças Armadas

  • 9/05/2017
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A saída de Raul Jungmann do Ministério da Defesa para disputar a reeleição à Câmara dos Deputados, já anunciada dentro do Planalto, está produzindo uma ranhura na superfície lisa do relacionamento entre o governo Temer e o Exército Brasileiro. As gestões têm como pano de fundo as aspirações embrionárias das Forças Armadas de que o futuro titular da Pasta seja um militar, quebrando uma tradição de 18 anos. Desde a sua criação, no governo FHC, foram dez ministros, incluindo Jungmann, todos civis.

O Ministério da Defesa sempre foi tratado como uma espécie de concessão dos militares, vigiada de perto. No entanto, a situação parece estar mudando diante das circunstâncias, que combinam crise política e as suspeições que cercam boa parte do Executivo e do Legislativo. Da parte das Forças Armadas, há ainda uma questão interna tão relevante quanto delicada: o “fator Villas Bôas”.

Por conta do seu estado de saúde, há uma considerável probabilidade de que o General Eduardo Villas Bôas tenha de se afastar do Comando do Exército antes mesmo de uma mudança no Ministério da Defesa. Hoje, o General Villas Bôas é visto como o principal fator de tranquilidade no aparelho das Forças Armadas diante do quadro de entropia política e institucional. Para todos os efeitos, Raul Jungmann terá até abril de 2018 para se desincompatibilizar do cargo – procurado pelo RR, o ministro não quis se pronunciar. No entanto, nada que envolva as Forças Armadas é feito de sopetão: as peças já começaram a circular pelo tabuleiro da sucessão.

Um candidato mais do que natural seria o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, hoje tido como o segundo nome mais importante e influente do Exército. No entanto, existem alguns pruridos para a sua indicação. Sua escolha criaria um embaralhamento hierárquico à medida que ele ficaria em um cargo superior ao do comandante do Exército – hoje, mesmo no GSI, que tem status de ministério, ele é um subordinado ao General Villas Bôas dentro dos critérios do Exército.

É bem verdade que se tratando dos oficiais em questão, uma eventual troca de posições formais não seria um problema, dada a excelente relação entre ambos. De toda forma, o mais provável é que o General Etchegoyen permaneça no GSI. Tanto ele quanto Temer compartilham da opinião de que sua presença no Palácio tem sido estratégica para dar fluidez às relações entre a Presidência e as Forças Armadas. Não obstante, Etchegoyen ser guardado como uma reserva técnica para ocupar o próprio cargo de comandante do Exército.

Outro nome egresso do estamento militar cogitado para substituir Raul Jungmann é o do Secretário-Geral do Ministério da Defesa, o General-de -Exército Joaquim Silva e Luna, ex-chefe do Estado-Maior do Exército. Quando Temer assumiu a presidência ainda provisoriamente, em maio de 2016, o General Silva e Luna esteve cotado para a Pasta. O fato é que, na hipótese de nomeação de um militar para a Defesa, com a permanência de Etchegoyen no GSI e a forte liderança do comandante Villas Bôas à frente do Exército, Temer teria ao seu redor uma espécie de Junta Militar.

Seriam três generais de quatro estrelas formando um cinturão em torno dos ministros civis do Planalto e do próprio Temer, todos citados na Lava Jato. Sabe-se lá se é apenas coincidência, se uma manobra para garantia institucional, se o objetivo é o de tutela disfarçada ou se a intenção é preventiva, uma alternativa a uma atitude de força maior, aquela mesmo que nem “nós” nem “eles” ousam sequer pronunciar o nome. Vade retro! A questão, ressalte-se, não está fechada a priori.

As gestões em curso preveem também a hipótese de continuidade da linhagem civil no Ministério da Defesa. O nome de Nelson Jobim, que já ocupou o cargo, é constantemente lembrado no Palácio do Planalto. Porém, pesa contra ele uma bruta contraindicação: sua atual estadia como sócio do BTG Pactual, onde está ao lado de um banqueiro citado na Lava Jato.

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