Receituário contra a “africanização” da indústria

  • 15/02/2018
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O empresário Pedro Passos, um dos fundadores da Natura, é um espécime raro entre seus pares. Dedica tempo e energia à busca de soluções para reverter o desmonte da indústria  nacional e acelerar a retomada do crescimento econômico. Na edição especial de 20 anos da revista Insight-Inteligência – lançada pela Insight Comunicação neste mês e distribuída a um mailing fechado – Passos contribui com valiosa mescla de proposições. A boa notícia: sim, há cura para a “africanização” da indústria brasileira. Para isso, Passos divide seu receituário em três frentes: reformas e políticas gerais; abertura e política de comércio exterior; e iniciativas industriais e de inovação.

Na primeira parte, estão as sapatas da edificação. O empresário elenca premissas fundamentais para a reorganização da economia. Cita como vital “superar a baixa qualidade da educação, base para o avanço tecno- lógico, modernização e incremento da produtividade”. Ainda no quesito das reformas e políticas gerais, Pedro Passos prega a manutenção da queda dos juros a patamares próximos aos padrões internacionais. Para o empresário, trata-se de um fator determinante para a revitalização do mercado de capitais brasileiro, seja como fonte de financiamento alternativa ao BNDES e demais agências de governo, seja como forma de aguçar o apetite do investidor pelo risco. Com relação ao segundo item – abertura e política de comércio exterior –, Pedro Passos olha para o mundo por uma grande angular. Defende a conclusão dos acordos comerciais com a União Europeia e o México, além de uma aproximação maior com Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Canadá.

Chama a atenção também para a importância do Brasil estreitar seus laços com países continentais do Pacífico, como Chile, Colômbia e Peru. Paralelamente, propõe a criação de uma única autoridade de comércio exterior, subordinada diretamente à Presidência da República. Seria uma forma de centralizar e simplificar a formulação e a execução de políticas de comércio exterior, hoje dispersas em múltiplas agências espalhadas por diversos ministérios – Apex/Ministério das Relações Exteriores; Camex/ Ministério da Indústria e Comércio; BNDES/Ministério do Planejamento. O empresário recomenda também uma revisão das estruturas tarifárias, as “mais obsoletas do mundo”. Menciona o estudo “How Lowering Trade Barriers Can Revive Global Productivity and Growth”, do FMI, segundo o qual uma redução de 1% das tarifas sobre insumos incrementa a produtividade total em cerca de 2%.

Pedro Passos confere especial atenção às iniciativas industriais e de inovação, que completa o tripé de seu paper. Nesse ponto, logo na partida, faz coro ao saudoso professor Antônio Barros de Castro, que há mais de uma década já chamava a atenção para a necessidade de descarte de alguns setores da indústria inexoravelmente engolidos pelo tempo. Passos afirma que o Brasil precisa “selecionar atividades com maior dinamismo tecnológico, tendo em conta as possibilidades de projeção global”. Mesmo porque, neste processo darwiniano, “não há recursos para amparar a sobrevivência de setores e empresas”. Pedro Passos alerta que se “avizinha uma nova revolução industrial baseada em ciência e tecnologia (Indústria 4.0 ou Manufatura Avançada)”.

Com base em estudo da OCDE, Passos discorre sobre uma série de decisões estratégicas e iniciativas que o Brasil terá de seguir para não perder mais este bonde da história: foco na melhoria das condições estruturais para que as empresas inovadoras operem em condições favoráveis; apoio aos vínculos e cooperação entre empresas, universidades e indivíduos; suporte governamental concentrado mais nos estágios iniciais das pesquisas tecnológicas; apoio ao empreendedorismo de base tecnológica – “facilitar o acesso ao financiamento das startups é uma ação recomendada”; e ampliação das conexões externas e da participação em cadeias globais, como forma de estreitas os vínculos internacionais e acompanhar os fluxos de tecnologia mundial.

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