Petrobras faz lobby para gasolina ir à Lua

  • 21/10/2015
    • Share

  O presidente da Petrobras , Aldemir Bendine, e o Conselho de Administração da estatal em peso estão pressionando a alta cúpula do governo para que aceite um reajuste dos combustíveis entre 15% e 19% este ano. A linha de raciocínio é que a pancada nos preços bem acima das expectativas – o mercado e o BC trabalham com um percentual entre 7% e 9% – tem mil e uma utilidades para a companhia e para o próprio governo. A mais óbvia é permitir uma injeção direta de recursos no caixa da empresa, corrigindo a defasagem de 17% na gasolina e de 21% no diesel. O reajuste evita ainda que seja necessária alguma capitalização mágica com o dinheiro do Tesouro, algo que vem sendo dado como favas contadas por muitos analistas, não obstante as recomendações contrárias à medida na atual circunstância política, quando tudo pode virar uma pedalada fiscal.   O argumento dos dirigentes da Petrobras é que o trade off entre o reajuste dos preços dos combustíveis e o aumento da inflação será mitigado se a correção for feita ainda este ano, deixando 2016 “limpo” de pressões inflacionárias da gasolina e do diesel e resgatando as condições da empresa recorrer ao mercado de capitais. A banca tem exigido taxas acima do que oferece a Petrobras devido à empresa ter uma dívida em dólar que custa 10% ao ano e endividamento total equivalente a cinco vezes a sua geração de caixa. Apenas com reajustes de combustíveis, a estatal conseguirá reverter a projeção de um fluxo de caixa negativo no ano que vem. As demais alternativas – venda antecipada de barris do pré-sal, transferência de recursos do Tesouro etc. – são vistas como trucagens, que podem piorar a percepção sobre a companhia. O que tem incentivado a Petrobras a seguir nessa rota é a multiplicação dos ganhos que a alteração nos preços proporcionará, com um significado mais amplo do que o benefício para o caixa da estatal. Em um contexto de arrocho fiscal e déficits orçamentários, com perdas de rating soberano, o alívio do caixa e redução dos custos de captação da Petrobras afeta não apenas a percepção de risco da estatal, mas também das grandes companhias instaladas no país.   A corrida de Bendine e Cia. se justifica também como uma forma de dar um xeque-mate na Cide. Apesar de a equipe econômica descartar sempre o uso da contribuição, sabe-se que ela é regra três para a hipótese, nada improvável, de o Congresso vetar a CPMF. Se por acaso for necessária a Cide, o aumento cobiçado dos preços dos combustíveis iria para a cucuia, pois a combina- ção de ambos é explosiva para a carestia. A Cide vai direto para o cofre do Tesouro, o aumento dos combustíveis, para o cofre da estatal. Se a Petrobras vender seu peixe antes, a Cide fica fora do cardápio. É disso que se trata.   Os dirigentes da Petrobras batem na tecla que a elevação dos preços do diesel e da gasolina, neste ano e em percentuais elevados, é boa para todo mundo. Produzirá ganhos sinérgicos de arrecadação tributária, beneficiando diretamente os estados, através do maior recolhimento do ICMS. Contribuirá também para tornar o etanol competitivo, reduzindo a situação de penúria das usinas sucroalcooleiras. A mudança no patamar de preço dos combustíveis é vista na Petrobras como fundamental para equilibrar o tripé sobre o qual está montado o plano de recuperação, juntamente com a venda de ativos e o corte de custos. A BR , por exemplo, teria uma mudança imediata nas projeções do seu fluxo de caixa, aumentando de valor e tornando-se mais apetitosa para o mercado.

#Aldemir Bendine #Petrobras

Leia Também

Todos os direitos reservados 1966-2024.