Os estranhos pesos e medidas nas balanças do Inmetro

  • 29/09/2017
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Não se pode confiar sequer nas balanças brasileiras e, muito menos, nos responsáveis por calibrá-las. O sistema de metrologia e rastreabilidade dos padrões nacionais de pesos e medidas, a cargo do Inmetro, está à beira de uma pane, que pode trazer graves consequências para diversos setores da economia, notadamente empresas exportadoras. Análises realizadas nos laboratórios do instituto em Xerém, no Rio de Janeiro, revelaram que o guardião das grandezas metrológicas do país está “descalibrado”.

Os testes identificaram falhas agudas nas condições ambientais sob as quais é realizada a calibração dos padrões nacionais. O índice de umidade do ar ficou na casa dos 80%, bem acima do padrão máximo permitido, em torno de 65% – a consequência é uma variação de sensibilidade dos equipamentos fora dos parâmetros. A causa do problema é tão prosaica quanto estarrecedora. Segundo o RR apurou, os dois climatizadores de ar do Laboratório Primário Nacional do instituto estão quebrados há dois anos. Consultado, o Inmetro não se pronunciou.

De fato, as “condições ambientais” do Inmetro estão longe do ideal. Nos últimos anos, o Instituto tem sofrido com os seguidos cortes de orçamento. No entanto, o risco de apagão no sistema metrológico nacional não pode ser atribuído apenas à falta de recursos ou mesmo incompetência. Segundo a fonte do RR, deslizes de comportamento e práticas pouco defensáveis também estariam pesando negativamente na balança do Inmetro. Em julho, a CGU iniciou uma auditoria para apurar supostas irregularidades na gestão da autarquia – as suspeitas se concentram, sobretudo, na contratação de empresas terceirizadas.

A rigor, quase toda a alta direção do instituto é composta por funcionários de carreira. A exceção é o pastor Alexander Oliveira, abençoado com a diretoria financeira – obra e graça atribuída ao PRB, do ministro do Desenvolvimento, Marcos Pereira. O Inmetro dá rastreabilidade aos padrões de referência de todos os laboratórios credenciados no país. Ou seja: está para a metrologia como o BC para o sistema financeiro. Se a medição do instituto perde a confiabilidade, a consequência é um efeito dominó, com risco de uma crise sistêmica nos parâmetros metrológicos do país.

As falhas prejudicam a emissão de certificados para diversos equipamentos de medição, com impacto sobre a indústria e o comércio. A questão ganha uma dimensão ainda maior na esfera internacional. Tradings e importadores de produtos brasileiros já estariam contratando o serviço de rastreabilidade de laboratórios no exterior, o que impõe dificuldades logísticas e aumenta os custos da transação. Alguém aí falou em Risco Brasil?

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