O show do dinheiro lubrificante não pode parar

  • 29/12/2015
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 Os José Dirceus, Marcos Valérios e Duda Mendonças, ressalvadas as grandes diferenças de hierarquia, trajetória e estilo, não farão sucessores. Esse modelo captador faliu. Foi essa maneira desenxabida de levar o lado pecuniário da política para o coração das empresas, tatuando a grana na pele das instituições, que se autocondenou por deméritos de sobra. O coquetel da intensidade com que o PT foi ao pote com a disposição das oposições de criminalizá-lo foi o catalisador das mudanças. O partido buscou um atalho na prática milenar de angariar fundos das empresas – no seu caso preferencialmente as estatais, mas também as privadas –, ao abreviar o processo e buscar o ervanário direto na fábrica, e não raras vezes na mão do dono. No passado, havia uma diplomacia da captação. Homens com a sofisticação de um Mauro Salles ou de um Jorge Serpa faziam da tarefa uma exibição de balé clássico – o verdadeiro estado da arte. Não têm substitutos, e os novos tempos provavelmente não suportariam tamanho refinamento. Portanto, é difícil ainda enxergar o novo perfil dos traficantes de influência, lobistas, tesoureiros de campanha e homens da mala, entre outros do ramo que ocuparão o vácuo deixado pelo mensalão, petrolão, Lava Jato, “República Independente de Curitiba”, “Japonês da PF” e coisa e tal. É bem possível que sobre um quinhão para as grandes agências de comunicação, pois tantas se misturaram de tal forma às estruturas de governo que não seria estranho se elas incluíssem no rol da sua prestação de serviços terceirizados o trabalho de intermediação científica do “dinheiro político ou de campanha” – se é que já não o fazem. As grandes empresas é que não deixarão mais que se encurte o caminho entre as tratativas para o agrado do político e o pagamento da contribuição suspeita, conforme virou regra no passado recente.  A obrigação de carimbar as verbas no TSE será insuficiente. Os empresários aumentarão o disclosure, divulgando suas demonstrações oficiais de financiamento eleitoral em outros espaços, tais como entidades da sociedade civil, a exemplo do Dieese e o Portal Transparência Brasil. Políticos ou profissionais carimbados da grana chegarão nas grandes corporações sendo vigiados desde a garagem e o elevador. A tomada de decisão não se dará de forma direta, e o political wall será reforçado com novas camadas de concreto. Afinal, a intimidade pecuniá- ria foi seriamente ferida. A solução será dialética, com o problema engendrando sua própria saída. No final, o mercado encontrará a solução profissional para que o sistema continue funcionando. A partir de março, esse filme, já com novos protagonistas, poderá ser visto nas mais ou menos cotadas prefeituras e câmaras municipais e em todas as empresas que contam no país.

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