BNDES vira a página dos financiamentos de artifício

  • 1/08/2016
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 A presidente do BNDES, Maria Sílvia Bastos Marques, tem o perfil adequado para eliminar, ou ao menos reduzir bastante, o estelionato funcional nas operações de financiamento do banco a projetos de investimento. A prática das empresas vem sendo solicitar o empréstimo alegadamente para o desenvolvimento de novo projeto ou expansão da capacidade instalada e usar esses recursos em substituição das suas linhas de crédito mais onerosas. É como se fosse uma operação de arbitragem com dinheiro público: o esperto troca o seu financiamento a taxas de mercado pelo do BNDES a juros favorecidos, que compra gato por lebre. Para atender o comprador de gatos, meio trilhão de reais foi transferido pelo Tesouro Nacional ao banco durante o período de 2008 a 2014. Pelo guichê do BNDES passaram 91 dos 100 maiores grupos nacionais. O resgate da infraestrutura foi a palavra de ordem. Conversa para boi dormir.  A taxa de formação de capital fixo, com PAC, sem PAC, concessões ou investimentos foi declinando a partir de 2010, chegando, em 2014, a um dos seus menores níveis em 20 anos. Para não dizer que não se falou nas estatais, elas foram as principais tomadoras de recursos. Mas o investimento, ninguém sabe, ninguém viu. Em 2014, a participa- ção das empresas do Estado na formação de capital fixo caiu 21%. Maria Sílvia sabe de cor e salteado o risco do riscado. O BNDES, diferente da banca privada a quem interessam prioritariamente as amortizações em dia, tem de produzir desenvolvimento, razão maior ou menor do cumprimento do cronograma dos projetos. A executiva quer reduzir a dependência do Tesouro e diminuir o intervalo entre a TJLP e a Selic, entre outros motivos, para brecar a ciranda dos empréstimos com nariz de Pinóquio. É curiosa a observação do BNDES: o custo papai com mamãe das operações com o Tesouro reduz a disposição da banca de cobrar o que foi contratado nos seus financiamentos. Portanto, há que se buscar recursos no mercado.  A instituição urgente de um seguro de performance ou garantia é outra pauta de primeira hora, reduzindo os motivos pelos quais os investimentos não se materializam. Maria Sílvia deve estar pensando também em honrar o “S” do social de BNDES. A cobrança de uma contrapartida de geração de empregos aos empréstimos beneficiados seria um bom início. Vale também a mesma recomendação que o RR fez a Luciano Coutinho: a produção de um demonstrativo do retorno à sociedade dos empréstimos realizados a taxas favorecidas, com a discriminação de diversos índices (valor adicionado, geração de divisas, impostos, impacto sistêmico na eco-nomia, interiorização dos benefícios etc). O BNDES foi vítima de um apagão. Mas melhoraram as expectativas de que o banco da Av. Chile volte a tonificar os investimentos.

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