BC independente é o estepe da reforma da Previdência

  • 26/09/2017
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O secretário-geral da Presidência da República, Moreira Franco, é hoje o maior entusiasta junto a Michel Temer da aprovação formal da independência do Banco Central. Moreira não está deixando momentaneamente seu monopólio das decisões governamentais sobre concessões e privatizações por veleidades monetaristas. Suas motivações são eminentemente políticas.

O “Maquiavel platinado” do Planalto sabe que a reforma da Previdência foi para o brejo e é preciso substituí-la por outra medida de forte impacto sobre as expectativas inflacionárias. Hoje, o único ativo do mais impopular dos governos junto às massas é a queda dos preços em geral, que vem desanuviando o mal-estar produzido pelas mazelas do desemprego e da redução do salário real. Moreira acredita que, na atual circunstância, o projeto de lei da criação do Banco Central independente será aprovado de roldão no Congresso.

Portanto, sairia de cena a reforma da Previdência e ingressaria no centro das atenções o BC todo pomposo e descolado dos desígnios do governo. A história do BC independente já atravessou muitas das esquinas políticas do país. Fernando Henrique Cardoso e Lula não lhe deram maior atenção – este último, contudo, tentou posteriormente aprovar a medida em manobra com Renan Calheiros. Dilma Rousseff tripudiou sobre a ideia: “O BC não é a Santa Sé”.

Aécio Neves desdenhou da proposta. Marina Silva incorporou-a ao seu programa de campanha, assumidamente aconselhada pela sua assessora “geneticamente banqueira”, Neca Setubal. Curiosa é a postura blasé do “bambino do BC” Arminio Fraga, que não considera este um assunto de maior importância. Pois, ao contrário de Fraga, dezenas de economistas se esgoelam em favor da medida.

O BC independente funcionaria como um seguro contra o populismo garantindo as condições para que a política monetária fosse implementada com consistência, sabendo-se que háum delay entre a adoção de juros mais elevados e a queda da inflação, que, muitas vezes, perpassa a duração de um governo. No mundo pululam os exemplos de BCs independentes, a exemplo dos Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Alemanha e Banco Central Europeu, só para citar os mais votados. E Henrique Meirelles? Por que não lidera a tropa de apoio à iniciativa? Quando era presidente do Banco Central – na gestão de Lula –, Meirelles desfiava com vigor argumentos favoráveis ao BC independente.

E o que mudou? Acredita-se que seja a indisposição de ter uma sombra que ameace seu estrelato absoluto na área econômica. Meirelles, segundo um amigo seu, é a versão masculina da diva Maria Callas: vaidoso, altivo, onipresente em cena. Na atual conjuntura, onde o protagonismo político lhe favorece, melhor que Ilan Goldfajn permaneça como um “subalterno autônomo”. Poder não se divide; poder se toma.

#Banco Central #Michel Temer #Moreira Franco

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