State Grid quer fundar uma Chinatown no Brasil

  • 12/05/2015
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Em meio aos preparativos para a visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e a assinatura de uma série de acordos bilaterais que preveem investimentos da ordem de US$ 50 bilhões no Brasil, o governo Dilma Rousseff tenta adiar o inevitável: o ingresso, em larga escala, de mão de obra chinesa nas obras de infraestrutura do país. A State Grid é um exemplo de que não existe almoço grátis no mundo das relações multilaterais. Se, de um lado, o grupo está aportando mais de US$ 4 bilhões em transmissão, o que o torna o maior investidor privado do setor no país, do outro os chineses colocam sobre a mesa suas inconvenientes contrapartidas. A State Grid insiste em usar um volume cada vez maior de equipamentos de fornecedores asiáticos. Tão ou mais complexa é a pressão da companhia para importar mão de obra chinesa. A State Grid já solicitou ao governo federal autorização para trazer 11 mil trabalhadores. Todo este contingente seria alocado na maior das obras da State Grid no Brasil: a construção da linha de transmissão da usina de Belo Monte, no Pará, um mega-empreendimento composto por mais de quatro mil torres. Isso significaria um imenso canteiro com mais de 12 mil quilômetros de extensão falando mandarim. O argumento do grupo para internalizar essa massa forasteira de trabalhadores é o conhecimento técnico dos empregados – a maioria teria participado de grandes empreendimentos na asia. A invasão de construtoras e, consequentemente, de operários chineses em terras brasileiras está escrita nas estrelas já há algum tempo – ver edição nº 4.911. Já a quela altura, mais precisamente em julho de 2014, o RR adiantava a intenção do país asiático em financiar um pacote de obras em infraestrutura no país no valor de US$ 30 bilhões. De lá para cá, com a inclusão de novos projetos, as cifras praticamente duplicaram. No entanto, a insistência da State Grid tem gerado um mal-estar diplomático entre Brasil e China. A legislação trabalhista brasileira só permite a importação de mão de obra para obras públicas em situações excepcionais, quando comprovadamente não há profissionais qualificados para exercer determinada atividade. Não parece ser este o caso. A rigor, não há nada que justifique tamanha invasão. O contingente de 11 mil trabalhadores representaria quase 80% do efetivo que deverá ser alocado nas obras da linha de transmissão de Belo Monte. O poder de pressão da State Grid está nas cifras que ela movimenta no Brasil. Sozinha, a empresa responde por mais de 15% do investimento total que os chineses prometem aportar no setor elétrico brasileiro. Apenas a construção do sistema de transmissão da energia gerada em Belo Monte bate na casa dos US$ 2,5 bilhões. Ainda assim, apesar dos valores sobre a mesa, as relações entre o governo brasileiro e a State Grid têm sido marcadas por sucessivos curtos- circuitos. Um dos mais recentes diz respeito a  construção da linha de transmissão para o escoamento da produção da hidrelétrica de Teles Pires, na divisa entre o Pará e o Mato Grosso. As obras estão atrasadas há mais de seis meses, motivo pelo qual o Ministério de Minas e Energia já solicitou a  Aneel que cobre dos chineses as multas previstas em contrato.

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