Investigação do Cade afeta o sistema nervoso do Cristália

  • 14/04/2015
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Não há dose de benzodiazepina capaz de aliviar a tensão de Ogari Pacheco, dono do laboratório Cristália. Nos últimos dias, o empresário circula irritadiço pelos corredores da companhia em Itapira (SP). Pacheco parece ter mergulhado num quadro de delírio persecutório: de velhos colaboradores a concorrentes, de autoridades do governo a históricos aliados políticos, culpa a tudo e a todos pelo escândalo que bateu a  porta do Cristália, investigado pelo Cade por sua suposta participação em um cartel para a venda de medicamentos em licitações públicas. O empresário enxerga conspiração em tudo a sua volta. Paranoia ou não, seu destempero é compreensível e pode ser traduzido em cinco letras: BNDES. As denúncias contra o Cristália vieram a  tona em um momento nevrálgico das tratativas com o banco para a obtenção de um financiamento de R$ 300 milhões, no âmbito do Profarma – programa de apoio a  indústria farmacêutica. Pacheco, que já dava os recursos como favas contadas, está vendo o empréstimo evaporar feito éter. Nas últimas semanas, o BNDES deu uma meia trava nas negociações com o laboratório. No banco, já se fala na suspensão de qualquer acordo com o Cristália até que o Cade conclua suas investigações. Procurado pelo RR, o laboratório disse que tomou conhecimento das denúncias pela imprensa e ainda não “recebeu notificação do Cade”. Já o BNDES informou que só se pronuncia sobre “projetos já contratados”. Caso se confirme, a negativa do BNDES representará um duro golpe para Ogari Pacheco. Sem os recursos do banco, boa parte dos mais de 20 projetos em andamento no Cristália para a produção de medicamentos biotecnológicos poderá voltar para o fundo da gaveta. Será uma brusca freada para uma empresa que, nos últimos anos, só fez acelerar. As acusações de formação de cartel e combinação prévia de preços com outros 14 laboratórios batem justamente naquele que foi o grande motor de arranque da companhia: a estreita relação com o setor público. Há cinco anos, o Cristália não faturava sequer R$ 600 milhões. Em 2015, suas receitas devem superar a marca de R$ 1,8 bilhão. Mais de 70% deste valor vêm de contratos com o governo. No mesmo período, aliás, o número de patentes sob registro da empresa pulou de pouco mais de 30 para quase 80 licenças. O Cristália também chama a atenção no setor pelo colar de PPPs com laboratórios e centros de pesquisa estatais, uma parte expressiva fechada durante a gestão de Alexandre Padilha no Ministério da Saúde. A proximidade com o poder ajudou a construir a fortuna e, sobretudo, a fama de Ogari Pacheco. Para o bem e para o mal.

#BNDES

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